O line-up de 27 marcas apresentadas na 57ª edição da São Paulo Fashion Week começou no dia 09 e encerrou ontem, domingo, 14 de abril, chamando a atenção neste ano pela diversidade no uso de materiais e formas criativas de implementá-los nos designs.
Começando pela Aluf, dirigida pela diretora criativa Ana Luisa Fernandes, que arrasou na passarela com sua coleção intitulada “Prosopopéia”, nome inspirado no poema de Bento Teixeira, que marcou o início da literatura barroca brasileira.

Com uma belíssima variação de tons brancos, pretos, terrosos, azuis pastel, laranja queimado e um sutil off-white, além de estampas douradas, as modelos desfilaram ao som da Orquestra Sinfônica Heliópolis, responsável pela trilha sonora. As modelagens em 3D destacaram ainda mais as silhuetas, que carregam brasilidade com o aproveitamento de 100% de matéria-prima nacional e sustentável.




Suas roupas também trazem inovação através do uso de uma ferramenta de inteligência artificial para criar estampas baseadas nas obras do artista barroco holandês Jan Davidsz, além da utilização de fibras naturais, como o veludo desenvolvido a partir de celulose de fibras de madeira certificada, e o chenille com fibras recicladas, os quais adicionaram contraste e tornaram a sequência de vestimentas ainda mais interessante.


Lilly Sarti esteve em clima de celebração, marcando os 18 anos da marca. A coleção prestou homenagem à mãe da designer, Sofia, e à irmã, Renata Sarti. A estilista afirmou ao site oficial da semana de moda que “É uma coleção potente na essência, na paleta de cores e nas formas, sem um fio condutor ou algo que limite nossa criatividade.”

A matriarca da família exerceu forte influência de moda sobre as filhas, sendo a inspiração para as peças concebidas para atualizar o guarda-roupa da mulher contemporânea. Durante o desfile, percebem-se pinceladas dos anos 70 e referências à Ásia Oriental, com uma interpretação ocidental evidente nos lamês metalizados dourados e prateados, calças estilo Aladdin e nos cintos com moedas.




O estilo cowboy, tão em alta, também fez sua aparição, e as tendências em suas vestimentas foram todas repaginadas com uma característica urbana, utilizando recortes a laser e couro leve.


A estilista Patricia Viera foi inspirada pelo Vale Sagrado no Peru para criar sua coleção, o que também se refletiu no aspecto western (country) de algumas peças. Franjas e muito couro foram exibidos em uma paleta de cores que variou desde o monocromático até tons como amarelo mostarda, vermelho-tomate, verde-abacate, amarelo-manteiga e marrom chocolate.

Houve até o uso de estampas geométricas (em couro recortado, exercendo o reaproveitamento de materiais) como os mosaicos em forma de triângulos projetados para dar um efeito tridimensional.


A variedade de looks deixou claro que a marca Patricia Viera é para todas, com combinações de jaquetas e saias, vestidos longos e tubinhos, botas compridas, chemises, camisas, shorts e saias.




A floresta serviu de ponto de partida para Renata Buzzo, que incorporou a planta Hera no repertório do desfile ao adicionar apliques cobrindo o corpo das modelos. Um jacquard com desenhos de folhas em tonalidades verde e vinho também evidenciou a inspiração.

As flores, grande aposta das passarelas internacionais, estiveram presentes, criando uma mistura entre floresta encantada e conto de fadas. Tecidos como veludo molhado e texturas apeluciadas deram ênfase aos designs hiperfemininos.




O cerrado é a substância da coleção da Thear, intitulada “Elementos”, que tem como ingrediente principal a aspiração pela fauna, flora e o encontro do fogo com a terra. Looks vermelhos simbolizam as labaredas, enquanto a paisagem árida é representada nos tons marrons.

A silhueta foi delineada por tranças que contornaram túnicas, calças e jaquetas. O upcycling, que já é uma característica importante do diretor criativo, apareceu nos bordados florais e nas sobras de tule, juntamente com um tema que clama pela urgência de visibilidade para o cerrado brasileiro.




Retornando à São Paulo Fashion Week, André Lima trouxe alguns elementos característicos de sua marca, como os vestidos com pontas, o que agradou aos ansiosos pela sua volta.

Texturas de “cabelo” prenderam a atenção do público em grandes camisetas e saias evasê, além de enfeitarem tricôs ou babados de tule. Houve muita fluidez em uma paleta predominantemente P&B e um elenco que contou com nomes de personalidade, como Alessandra Berriel, a qual apresentou um catwalking performático dos anos 1980.




Foram vistas sequências mais ousadas com cortes vazados e outras peças mais casuais, em um desfile repleto de referências que permearam o trabalho do designer ao longo de sua carreira.


Outro desfile realizado em clima de comemoração foi o de Gloria Coelho, que completou 50 anos à frente da sua marca homônima.

Resgatando os anos 60 em modelagens estilosas e com um apelo visual mais descolado do que o padrão que costuma apresentar, ela investiu em aplicações sobre tules, como flores, além de franjas de cetim, fitas e paetês.




Os looks brancos trouxeram tendências como corpete, recortes, transparência e a força do plissado, demonstrando a capacidade de Gloria de se renovar ao longo desses 50 anos.


Fotos: Zé Takahashi/Agência Fotosite