Fotos: Andrea Graiz
A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS FOI UM DIVISOR DE ÁGUAS NA TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL DE MUITAS PESSOAS, ESPECIALMENTE DAS LIGADAS AO SETOR DA MODA E DA ÁREA DE EVENTOS. ESSE É O CASO DO ESTILISTA SÉRGIO PACHECO, QUE HÁ MAIS DE 35 ANOS COMANDA, JUNTO COM A IRMÃ, O ATELIER QUE LEVA O SEU NOME E QUE É UM DOS MAIS CONCEITUADOS QUANDO SE FALA EM ROUPAS DE LUXO SOB MEDIDA NA CAPITAL GAÚCHA.
Durante a pandemia, para manter a infraestrutura da empresa e não ter que demitir funcionários, o estilista teve que se reinventar e colocar em prática o seu lado empreendedor, criando alternativas e colecionando aprendizados. No entanto, após este período difícil, viu seu atelier crescer muito além do que esperado, e atualmente suas criações vestem a maioria glamourosos eventos da capital gaúcha. Uma viravolta extraordinária para quem pensava que já estava chegando a hora de se aposentar.
PANDEMIA: UM PRIVILÉGIO DOLOROSO
“A pandemia foi um privilégio doloroso para nós crescermos, pois de uma hora para outra foi tirada a
nossa liberdade, tivemos que ficar isolados em casa e com isso aprender outras coisas. Aprendi nesse tempo a estudar, a renovar, a olhar mais as pessoas em minha volta e ver o que elas estavam passando, ser mais empático, ser mais caridoso, mais bondoso, ficar mais atendo para as dificuldades que as pessoas enfrentavam. Eu aproveitei a pandemia para melhorar a minha visão e as minhas ações em relação ao mundo em geral. Eu sempre me considerei uma pessoa empática, mas a pandemia me fez
exercitar mais esse meu lado, me fez enxergar as dificuldades das pessoas, tanto materialmente como efetivamente, e assim me fez ajudar principalmente quem estava por perto. Foram aprendizados importantes que se mantiveram mesmo após o caos passar”, conta o estilista.
OLHAR EMPREENDEDOR
Assim como muitos empreendedores, Sérgio teve que buscar alternativa para manter a saúde da
empresa. “Quando eu percebi que as festas não aconteceriam, comecei a olhar em minha volta para ver como poderia fazer para manter pelo menos num nível estável a situação da minha empresa, os meus ganhos e os ganhos das pessoas que trabalham comigo. Eu precisava tomar alguma atitude. Como empreendedor eu tinha que fazer alguma coisa para manter o faturamento e a infraestrutura da empresa e não ter que demitir meus funcionários. Foi então que me dei conta que a casa, naquele momento, era a grande protagonista das nossas vidas, eu mesmo ficava em casa diariamente trabalhando, pesquisando e me organizando”, explica Sérgio. Artista nato, com grande capacidade criativa, Sérgio viu que para poder se manter no mercado que está em constante transformação, era necessário desenvolver outras habilidades. “Eu me considero um artista, acho que sou um profissional muito bom no que eu faço, mas hoje em dia além de ser um ótimo artista, é preciso ser um grande empreendedor, um grande comerciante, um grande empresário. É necessário entender tudo o que envolve o negócio para
poder organizar a logística do trabalho,” ensina. “Eu comecei sendo um artista e me dei conta que precisava desenvolver esse outro lado, assim ao longo do tempo fui estudando e me aperfeiçoando”, completa.
UM NOVO PRODUTO
A partir da constatação da importância da casa na vida das pessoas, o estilista imaginou que, naquele momento, criar algo para a casa poderia ser interessante, e assim surgiu a linha Casa Collection. “Mas não foi tão fácil, eu precisei estudar muito para desenvolver os produtos, porque é um trabalho totalmente diferente do que eu sempre fiz. E, para lançar um produto, seja ele qual for, é preciso estudar, se familiarizar com as particularidades, seja de tecidos, seja de materiais, seja dos problemas que surgem em relação ao negócio”, ensina o estilista.
APROVEITAR AS OPORTUNIDADES
Estar atento ao que está acontecendo ao seu redor e aproveitar as oportunidades que surgem, são passos importantes para quem quer evoluir nos negócios, ensina o estilista. “Assim que passou o confinamento, eu comecei a trabalhar, e quando foi confirmado que aconteceria o Baile do Leopoldina Juvenil eu logo pensei: tenho que me mexer e mostrar o nosso trabalho para ganhar visibilidade, então imediatamente comecei a trabalhar focado nisso. Passei a criar vários vestidos de festas para mães, para madrinhas, para convidadas. Por sorte, como eu não tinha demitido nenhum funcionário e minha equipe estava íntegra, conseguimos dar conta da demanda de uma forma bem tranquila”, diz.
O SUCESSO PÓS PANDEMIA
“O nosso atelier foi o que mais fez roupas para o Baile de Debutantes do Leopoldina Juvenil, que aconteceu em março deste ano. Foram mais de 50 vestidos usados por mães, madrinhas e convidadas, além de seis vestidos criados exclusivamente para as debutantes, o que foi ótimo para o atelier, porque nos trouxe visibilidade e hoje estamos colhendo os frutos do trabalho bem-feito para esse baile. Tanto que para o Baile de Debutantes do Country Clube, também tivemos um número expressivo de debutantes, de mães e de convidadas usando nossas criações”, revela Sérgio.
RENOVAR PARA EVOLUIR
Renovação e evolução são fundamentais para o negócio se manter ativo, explica o empresário. “Estou
há 35 anos criando roupas, mas procuro renovar e estar por dentro de tudo que está acontecendo no
mundo. Estudo bastante, acompanho o que está acontecendo na alta-costura moderna. A gente tem
que renovar a cabeça, se renovar nos conceitos das evoluções que estão acontecendo no mundo. Eu atendo as meninas que estão debutando, assim como as que estão fazendo Bat mitzvah, então é preciso perceber a linguagem delas e o que elas estão querendo. E isso é uma questão de estudo e principalmente de empatia”. Afinal, a roupa sob medida é a união de duas ideias: a da pessoa que vai
usar e a da pessoa que vai fazer. No meu caso, eu costumo imprimir as minhas ideias, a minha forma de
fazer, com a ideia da pessoa. Como sempre digo: eu não faço moda, eu visto pessoas. A gente tem que entender e perceber o que a pessoa quer, qual a personagem que ela quer vestir naquele dia, porque a roupa só é bonita se a pessoa se identificar com ela”, conclui o estilista.