ESTILISTA GAÚCHO COMEMORA 30 ANOS DE CARREIRA
Há 30 anos à frente do atelier que leva o seu nome, o estilista Sergio Pacheco, um dos maiores nomes de roupas sob medida de luxo no Rio Grande de Sul, conta que nunca teve o desejo de ser estilista. Iniciou a carreira por questão de sobrevivência, já que pertencia a uma família muito simples.
Acredita que o segredo do sucesso de sua carreira se dá pela maneira simples como encara a vida, sem nunca ter deixado a fama subir a sua cabeça.
Aos 10 anos, Serginho, como hoje é conhecido, estudava num colégio público quando recebeu da professora o conselho que mudaria sua vida. “Como eu tinha boas notas, foi sugerido que eu tentasse a seleção do Colégio Aplicação. Na época, nem sabia direito o que aquilo significaria mais tarde. Comentei com os meus pais, mas os dois trabalhavam e não poderiam me levar aos testes. Fui sozinho fazer a inscrição. Lembro que não alcançava o balcão para entregar os documentos. Foram cinco dias de provas até saber que seria aprovado. O Aplicação tinha um método muito diferente e foi fundamental para a minha formação pessoal e profissional.”
Foi nas férias do colégio, aos 16 anos, que Serginho começou a trabalhar para ter seu próprio dinheiro. “A loja Sacks, que estava no auge, ficava na Galeria Malcon. Lá, uma pessoa que fazia vitrine e produção de desfile me pediu ajuda por acreditar que eu levava jeito para a coisa. Na verdade, não entendia nada daquilo, apenas aproveitei a chance que me foi dada e fui aprendendo tudo na prática”, conta Serginho.
Depois disso, surgiu a oportunidade de trabalhar para as franquias da Ellus, de Maurício Estrougo, também dono da Casa das Sedas. “Fui convidado para fazer as produções da loja pela mulher dele, Mônica Guazzelli, a qual eu já conhecia, pois fomos contemporâneos na escola. Mais tarde, o casal também me chamou para produzir o desfile de inauguração da loja da marca francesa Charles Jourdan, que eles abriram na rua Ramiro Barcelos com a avenida Independência. Lá trabalhei e aprendi muito. Eu era uma espécie de assessor da Mônica, ajudava em quase tudo da loja. Com o tempo me dei conta de que não tínhamos vestidos de festa para oferecer às clientes. Então surgiu a ideia de confeccionar”, lembra o estilista.
Aproveitando o conhecimento da mãe em costura e o investimento inicial que sua irmã Silvia estaria disposta a fazer, a família de Serginho montou uma confecção de vestidos de festas para serem vendidos na loja onde ele trabalhava. “O sucesso foi tanto que seis meses depois, começamos a produção em série, em maior quantidade. Inventava, desenhava, cortava, bordava. Aliás, até hoje gosto de participar de todas as etapas de produção. Tenho o dom de colocar as ideias em prática”, revela.
Serginho lembra do dia em que recebeu a visita da socialite que o apresentaria à sociedade gaúcha. “Suzana Chaves Barcellos ofereceria um jantar à paulistas, e Pitty Chaves Barcellos Kessler me procurou para encomendar um vestido exclusivo e marcante para a ocasião. Fiz um vestido curto de veludo azul-marinho, mangas compridas, bordado com flores rosas e folhas em verde-claro e foi um sucesso. Na festa, ela me apresentou para os formadores de opinião, Eduardo Connil e Paulo Gasparotto, como o novo costureiro da cidade. No dia seguinte ao evento, levei um susto: minha foto já estava nos principais jornais do Estado”, recorda.
Apesar do sucesso, ele diz que a fama nunca subiu a sua cabeça. “Procuro aprender com os erros e ser humilde. Durante os 30 anos de atelier, acompanhei muitas carreiras meteóricas, estilistas que fizeram sucesso e desapareceram. O trabalho tem que ser muito bem feito, e é preciso se reinventar o tempo todo porque o mundo está rápido demais. Costumo dizer que o que faço hoje é alta-costura contemporânea. Estou sempre pesquisando, viajando e me atualizando com tudo que a tecnologia oferece de mais moderno.”
“Atualmente temos três linhas: alta moda (sob medida), ready (pronta) e a white (prêt-à-porter noivas e début). Costumo fazer quatro provas para vestidos de festa e cinco provas para noivas e debutantes. A roupa sob medida vai além da beleza. Ela precisa ser cuidada nos detalhes. Existe preocupação com o tecido, o corte e o acabamento. E como nem todas dispõem de tempo e dinheiro para fazer um vestido sob medida, tenho investido na linha prêt-à-porter. No último ano, vendi muitos vestidos de noiva e debutantes prontos.”
O estilista acredita que estamos vivendo um momento único e que todos que queiram sobreviver às mudanças precisam se adaptar. “As pessoas hoje têm muitos procedimentos estéticos disponíveis e estão cada vez mais jovens. A facilidade do acesso à informação que se tem é incomparável. Hoje em dia, as clientes já chegam ao meu atelier com muitas referências de moda. Gosto de conversar para conhecer os estilos e entender as expectativas de cada uma. O grande desafio, então, é saber o que desejam e o que realmente as favorecem. Agora, por exemplo, é tendência a cintura marcada, mas isso fica bem em todas? Não! É preciso reconhecer o que fica bem em cada tipo físico. Por isso, costumo dizer que não faço moda, visto pessoas. Meu trabalho, às vezes, é empurrar as mais conservadoras e segurar as mais ousadas”, explica.
Disciplinado e normativo, Serginho acredita em hierarquia. “Um dos grandes momentos da minha carreira foi receber o reconhecimento público do estilista Rui Spohr. Em seu livro ‘Memórias Alinhavadas’, 1997, ele disse que pelo trabalho que eu vinha desenvolvendo tinha certeza que eu teria um brilhante futuro. Isso para mim foi mais do que um elogio. Naquela época, início da minha carreira, ouvir esse comentário de quem, para mim, era a divindade, foi um grande incentivo e a cer-teza que o caminho que eu havia escolhido estava certo”, revela o estilista.
Talvez o grande dom de Serginho seja a capacidade de se adaptar e se reinventar. O guri, que aos 17 anos precisava conciliar os estudos com o trabalho e que cursou arquitetura porque naquela época não existia curso superior em moda, sempre foi autodidata. Aos 30, percebeu que deveria trabalhar a sua imagem e pegou pesado na malhação: foi cinco vezes campeão de bodybuilding. E é com essa intensidade, entrega e obstinação que ele veste há 30 anos muitas famílias tradicionais do Rio Grande do Sul.