Um dos favoritos na disputa do Oscar (que foi ao ar no domingo, 10 de março), “Pobres Criaturas” ou em inglês “Poor Things”, venceu nas categorias de ‘Melhor Figurino’, ‘Melhor Direção de Arte’ e ‘Melhor Maquiagem e Cabelo’, concedendo à protagonista Emma Stone, que esteve impecável no papel da excêntrica Bella Baxter, o prêmio de Melhor Atriz, totalizando 2 Oscars em sua brilhante carreira.
Uma experiência cinematográfica
Com base no livro de Alasdair Gray, o filme que perturba mas também fascina o espectador acompanha a vida da jovem Bella Baxter (Emma Stone), que antes de se chamar assim, era Victoria Blessington. Ela ganha o nome Bella após ser ressuscitada (depois de cometer suicídio) por um médico incomum. Em vida, Victoria sofreu uma gravidez indesejada e, dessa forma, o doutor substitui seu cérebro pelo de seu bebê ainda não nascido.
Embora comparado a “Frankenstein”, a trama está longe de ser uma mera adaptação; é muito mais do que isso. A primeira impressão que temos da personagem principal é infantil, como uma criança no corpo de um adulto, o que marca a habituação e as descobertas de Baxter ao renascer. A partir disso, ela vai se desenvolvendo, percebendo sua feminilidade e se surpreendendo com as dificuldades da vida de uma maneira original, inabalável e despretensiosa, em uma série de eventos de autodescoberta.
O que torna o filme ainda mais singular e o transforma em uma rica fonte de referências visuais é a jornada por continentes com céus laranja e roxo, denotando um imaginário esplêndido com cenários europeus saídos de fábulas. Além disso, a Alta-Costura representa a era vitoriana ajustada para os tempos modernos, retratando a evolução de Bella como mulher e ser humano fora dos padrões sociais.
‘Poor Things’ é liderado por Stone, e o elenco conta com Willem Dafoe, que interpreta o Dr. Baxter, e Mark Ruffalo como o advogado Wedderburn.
O figurino é uma interpretação do século 19 para os tempos atuais
As vestimentas não se tratam apenas de uma estética que enfeita o longa; elas envolvem complexidade. O guarda-roupa acompanha a evolução da figura central. Para isso, a figurinista Holly Waddington resgatou o período do século 19 com uma visão não totalmente fiel, apresentando uma versão com tecidos fluídos, cores vivas e uma abordagem mais espirituosa.
Enquadramentos com lentes incomuns, geralmente não utilizadas no cinema, dão ainda mais destaque ao surrealismo presente na história. A fotografia de Robbie Ryan se divide em preto e branco na fase inicial (o que deixa o espectador curioso para ver os tons reais das peças luxuosas) e colorida na fase adulta, surpreendendo pelo cuidado óptico.
É através das texturas e formas que se pode ter uma noção do mundo em que Bella vive. Waddington pesquisou em acervos de revistas de moda antigas, livros, fotografias e também desenvolveu uma boa relação com a equipe do Victoria & Albert Museum, facilitando seu acesso aos arquivos de vestuário.
A equipe do filme introduziu elementos que vão desde o sobrerrealismo até o steampunk, um gênero literário e cultural da ficção científica que surgiu nos anos 80, ambientado em um cenário vitoriano alternativo e altamente tecnológico, explorando o potencial da ciência e da imaginação humana.
Holly explicou em entrevista para a Vogue que trabalhou bastante com quilting, “uma técnica de costura feita para criar camadas espessas, resultando em peças aconchegantes e macias”. A força feminina é evidenciada nas mangas de musselina extremamente grandes e na rigidez vanguardista, traduzida com seu florescimento pessoal em transparências e babados. É no seu progresso intelectual que jaquetas e botas de cano alto entram em cena, moldando um caráter mais maduro.
Um dos vestidos mais difíceis de serem produzidos, segundo a figurinista, foi o de casamento, pois o conceito era que ele precisava ser voluptuoso, mas feito de quase nada. Apesar de não parecer, o design era extremamente leve, feito de gazar, organza, algodão e tule, exigindo minuciosidade e técnica.
Com um livro de padrões dos anos 1890, Holly estudou a fundo e descobriu que os arquétipos da época eram muito mais extremos do que ela pensava originalmente. Ela chegou à conclusão de que as mangas do traje de noiva deveriam ser ainda maiores, então a manga do vestido chegou a cerca de um metro de circunferência, lembrando balões.
Quando assistimos ao longa-metragem, analisamos o que poderia ter potencial para se destacar no ano. Sentimos que as mangas enormes iriam aparecer com tudo e, quando perguntada em entrevista ao The New York Times, Waddington afirmou que espera que esses elementos maximalistas se tornem tendência. Para ela, vale muito a pena usar e são empoderadoras, e reforça: “Sempre que as mangas foram grandes para as mulheres – no período elisabetano, na década de 1940 e na década de 1980 – geralmente estavam em um bom lugar. Estou tão feliz que optamos por elas.”
Sendo aprovadas ou não, já estamos aderindo ao estilo e influência da inesquecível Bella Baxter.
Fotos: (Searchlight/Alamy©) Fornecido por Yahoo Movies UK, Rodin Eckenroth