Fotos : L’Officiel, Reprodução/Twitter, Gucci, Prada.
Após o infortúnio incidente das infames estatuetas decorativas Pradamalia, acusadas de estereótipos racistas a comunidade afroamericana, a grife Prada sofreu um pesadelo político, tendo sido inclusive chamada a responder na Comissão dos Direitos Humanos de Nova Iorque . Por fim, no último dia 4 de fevereiro, foi anunciado pelo jornal americano, The New York Times, que a diretora criativa e chefe da marca, Miuccia Prada, entrou em acordo com o órgão público, dispondo-se a promover treinamentos de sensibilidade na empresa, a fim de remediar e evitar incidentes como o ocorrido.
PRADAMALIA E A RECEPÇÃO NEGATIVA
Tudo começou em dezembro de 2018, quando a advogada de direitos humanos, Chinyere Ezie, postou uma foto em sua conta no Twitter dos objetos na vitrine de uma das lojas da grife, que eram extremamente ofensivos a cultura negra, chamando imediatamente atenção e fúria dos internautas por assemelhar-se a macacos em blackface.
Vendo o backlash negativo, a grife fez um pronunciamento oficial, se desculpando sobre o incidente, e retirando os produtos de todas as lojas físicas e virtuais o mais rápido possível. Mesmo assim, as consequências foram maiores do que pensavam. Porém, a Prada não foi a primeira marca cuja falta de sensibilidade a diversidade racial colocava uma grande marca de moda em tal situação. Em 2019, a Gucci colocou a venda um suéter gola alta de balaclava em lã preta, que em poucos segundos recebeu inúmeras críticas negativas, também por acusações de Blackface (como a Prada), sendo alguns dias depois retirado da lojas e e-commerces.
O ato dado como “racista” levou muitos famosos a se revoltarem com a marca, sendo um deles o rapper 50Cent. EM um video postado em sua conta do Instagram, o rapper mostrou seu descontentamento ao queimar uma de suas camisetas da grife. Na descrição, 50Cent ainda dizia: “Eu vou me livrar de tudo que é da Gucci que eu tenho em casa. Eu não dou suporte a sua marca novamente”.
ACORDO DE DIVERSIDADE DA MARCA
Já fazia um tempo que a industria da moda sofria casos velados de preconceitos e manifestação de estereótipos raciais, principalmente em grandes marcas, como Dior, por acusações de apropriação cultural na campanha “Sauvage” que tinha um conceito baseado nas tribo nativo-americanas, sendo descrita como “parecido com selvagem, porém mais chique”. Também a Dolce & Gabbanna, por sua campanha altamente estereotipada do publico chinês, o que levou a Comissão dos Direitos Humanos de Nova Iorque a olhar a questão com bastante cuidado.
Em declaração para o The New York Times, uma porta-voz disse que “dada a semelhança dos produtos com blackface não ser de jeito nenhum intencional”, e a companhia ter trabalhado rapidamente para remediar a situação, a Prada estava “surpresa” de ser chamada pela comissão.
“Nós trabalhamos próximos com a NYCCHR (Comissão dos Direitos Humanos de Nova Iorque) e prontamente respondemos a muitas das suas recomendações, bem como o avanço do nosso acordo ser finalizado” disse ela.
Tanto Miuccia, quanto seu marido e chefe executivo da grife, Patrizio Bertelli, bem como o diretor executivo e acionista Mazzi Carlo, passarão por um treinamento de sensibilidade a diversidade. O acordo também exige que a Prada aponte um Oficial de Diversidade e Inclusão nos próximos 120 dias. O mesmo tendo nível de diretor e deverá ter aprovação da Comissão. Entre as funções do cargo estariam a de “revisar” os designs da Prada. Seja antes de serem vendidos, divulgados ou promovidos em qualquer lugar dos Estados Unidos. Algo que, dado a enorme quantidade de novos produtos criados a cada estação, será uma tarefa certamente extraordinária.
CONSELHO GUIA DE INCLUSÃO E DIVERSIDADE
Mesmo antes da finalização do acordo, a grife já tinha começado a tomar providências para melhor entender como trabalhar a diversidade em sua marca. Em janeiro de 2019, a Prada anunciou a criação de um Conselho Guia de Inclusão e Diversidade, formado pela diretora Ava DuVernay e o artista Theaster Gates. Uma ação que a porta-voz afirmou ser “criada a partir de conversas com a liderança do Grupo Prada e colaboradores de longa data. Bem antes de interagirem com a Comissão de Direitos humanos.
Ava Duvernay e Theaster Gates
Vale constatar também que, muitas das condições envolvidas no acordo judicial com a Prada, espelham comprometimentos que o grupo Gucci já havia anunciado. Incluído a criação de bolsas de estudos e promessas de diversificar seus times executivos e de design. Em julho de 2019, a grife contratou Renée Tirado, sua primeira head global de diversidade e inclusão. A mesma desempenhava um papel similar para a Grande Liga de Baseball. Entretanto a marca prefere não se pronunciar sobre o status atual de suas negociações com a Comissão. Entretanto não negam que as conversas com o órgão estejam acontecendo. Já a grife Christian Dior ainda não comentou nada sobre o assunto, o que aumenta o interesse sobre anunciamento futuros.
Eventualmente, em uma entrevista ao jornal, Ezie falou estar satisfeita com o fim tomado pela Prada.
“Eu queria que isso fosse um momento de acerto de contas para a companhia, sobre como eles farão negócios nos próximos 20 para 30 anos”, disse ela. “Para mim isso representa um novo modelo de responsabilidade corporativa, que começa com uma hashtag e defesa online, e resulta em uma oportunidade real de mudança fora do digital”.
O consultor Robert Burke, que comanda uma renomada consultoria de luxo, também se manifestou sobre os eventos envolvendo as grifes. Burke alega que para ele a ação traria um grande efeito ondulatório sobre a indústria da moda.
“Eu pensaria que qualquer marca que não estiver implementado esse tipo de mudanças e previdências, começaria a fazer isso o tão rápido possível” disse Burke.