Iniciamos uma série de matérias intitulada “Era uma vez em Hollywood”, na qual destacaremos personalidades que marcaram, de alguma forma, as décadas passadas. Seja por suas reputações excêntricas, estilos de vida influentes ou capacidade de quebrar os padrões vigentes de sua época, essas figuras deixaram um legado vintage na história. Essa herança ecoa até os dias de hoje, seja para inspirar ou reviver uma atitude simbólica que desafiou normas rígidas para se tornar um ícone.
Começamos com Vikki Dougan, a ex-modelo e atriz norte-americana que ficou conhecida na indústria como “The Back” — traduzido para o português como “As Costas” — devido ao fato de usar vestidos ousados demais para os paradigmas dos anos 50.
Vikki Antes de Se Tornar Dougan
Antes mesmo de se tornar uma figura pública, Vikki Dougan era Edith Tooker, nascida em 1929 na cidade de Nova York, no bairro do Brooklyn. Seus pais eram Wilber, que trabalhava como corretor de seguros, e Mary Tooker, uma bibliotecária. Sua mãe adotou o sobrenome de solteira Dougan.
Desde pequena, Edith já demonstrava qualidades para ser modelo, tendo vencido concursos de beleza, incluindo Miss Coney Island e o oitavo concurso anual de Rainha do Patins de Nova York. Aos 16 anos, foi finalista do concurso “Miss Rheingold”, mas acabou desclassificada por ser menor de idade.
Com o tempo, ela atraiu a atenção de agentes, e o primeiro com quem conversou a aconselhou a mudar de nome. Assim, Edith passou a se chamar Vikki, em homenagem à atriz Vickie Lester, e optou pelo sobrenome original da mãe, Dougan.
Curiosidades Sobre a Carreira de Vikki Dougan
A ascendente carreira de modelo de Vikki Dougan fez com que ela se tornasse uma “pin-up” — um termo em inglês que se refere a um arquétipo voluptuoso geralmente retratado em ilustrações em aquarela, baseadas em fotografias. Este símbolo atraente estabeleceu uma conexão com a cultura pop, pois era frequentemente representado por atrizes e modelos.
As primeiras “pin-ups” surgiram em 1890, conhecidas como “Gibson Girls” devido ao seu criador, Charles Dana Gibson, o homem que definiu o primeiro ideal de beleza feminina americana. Gibson trabalhou na famosa revista Life em 1886 como artista gráfico e ilustrador, e ficou famoso por seu senso refinado para moda. Ele se imortalizou na criação da “Gibson Girl”, que representava uma mulher independente, livre e de grande beleza, refletindo a onda do feminismo da época.
Os atributos dessa nova mulher incluíam uma silhueta marcada pela forma “S”, cintura e pescoço finos, e cabelos volumosos no estilo pompadour, presos acima da nuca e no alto da cabeça. Ela também era membro da alta sociedade e estava informada sobre as últimas tendências da moda.
Este status suntuoso levou Vikki a muitos projetos, como anúncios da Maybelline, Cutex e Charmin, além de ela ter aparecido nas capas das revistas Harper’s Bazaar, Seventeen e Collier’s. Ela ainda foi apresentadora no “The Jackie Gleason Show” e, ao mesmo tempo, fazia aulas de atuação.
Vikki Dougan: Uma Figura Inédita em Hollywood
Dougan já havia aparecido em um breve artigo na revista Life em 1952, que descrevia como usava perucas de cores e estilos diferentes para conseguir mais propostas como modelo.
Em 1953, ela foi destaque na manchete “Vikki Dougan: Atriz, Modelo e Mãe,” a qual mencionava seu divórcio e contava como equilibrava suas carreiras e a maternidade. Quanto ao seu histórico cinematográfico, inclui pequenos papéis e nunca atingiu o auge, mas seu momento de relevância veio para imortalizá-la como um “Sex symbol”.
“The Back”
Foi no ano de 1956 que o publicitário de Vikki Dougan, Milton Weiss, a propôs usar um vestido aberto nas costas para promovê-la, atraindo assim a atenção de todos. O decote, consideravelmente profundo, tinha o objetivo de contrastar a moda com o sexismo predominante no cinema da época. Foi então que Milton deu o apelido “As Costas” a Vikki, o que rapidamente a tornou conhecida entre fotógrafos durante eventos com suas roupas notáveis.
Um desses eventos foi a 14ª cerimônia anual do Globo de Ouro no Hotel Ambassador, na noite de 28 de fevereiro de 1957, em Los Angeles, quando Vikki Dougan entregou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante a Earl Holliman usando um longo de cetim rosa sob medida, aberto nas costas e coberto por um xale de vison. Antes de subir ao palco, ela deixou o acessório cair de seus ombros, revelando suas costas e provocando uma série de reações, incluindo suspiros, fofocas e críticas.
Vikki Dougan pelas Lentes de Ralph Crane
Ralph Crane talvez seja um dos maiores admiradores de Vikki Dougan, visto que o fotógrafo fez várias fotos memoráveis da modelo e atriz para a Life Magazine. Na coluna de 1957, correspondentes de Hollywood referiam-se a ela como “a garota com as costas mais notórias da cidade”, e, devido à repercussão, seu dorso hiperfeminino continuou a ser destaque até 1964.
Vikki Dougan: A Inspiração por Trás da Personagem Jessica Rabbit?
Vikki Dougan é frequentemente citada como a inspiração por trás da personagem Jessica Rabbit no filme de 1988 “Uma Cilada para Roger Rabbit“, embora o animador Richard Williams tenha afirmado que sua aparência é uma combinação de várias musas hollywoodianas.
Apesar de Vikki ter se afastado cedo dos holofotes, a nova geração está redescobrindo esse ícone vintage e trazendo à tona sua estética. Em uma época em que mostrar as costas era considerado atrevido, hoje essa prática é vista como uma aposta clássica e uma assinatura dos tapetes vermelhos.
Para que essas vestimentas se tornassem comuns, foi necessário que mulheres desbravassem novos caminhos. Embora Dougan tenha abandonado a carreira cinematográfica, seus esforços para conquistar espaço nesse meio serão lembrados e servirão como referência de estilo.
Fotos: Acervo de George Grantham Bain/Livraria do Congresso, Nina Leen e Ralph Crane