Um dos questionamentos que cercavam a entrada de Alessandro Michele na Valentino era o quanto ele transformaria a grife italiana em uma nova Gucci. O lançamento da Coleção Resort 2025 pegou a todos de surpresa e as comparações foram inevitáveis.
Mas será que você está julgando a coleção de forma justa ao dizer que ela não é tão Valentino quanto as criações do ex-diretor criativo Pierpaolo Piccioli? Vamos desmembrar o Resort 2025 para que você possa entender melhor!
Primeiro, Separe as Características de Alessandro Michele da Estética da Valentino
Para fazer uma análise justa e completa, precisamos voltar a 2015, ano que marcou a entrada de Alessandro Michele na Gucci. Essa parceria rendeu momentos icônicos na moda e, inclusive, aumentou em 35% o crescimento da marca entre aquele período e 2017, segundo dados da Vogue.
Estudando as propostas anteriores a ele, podemos concluir que a Gucci mantinha concepções mais neutras e atemporais. Sua chegada revolucionou a grife, onde ele conseguiu, de forma inteligente, chamar mais atenção para sua assinatura inconfundível, mantendo o tradicional DNA da casa incrustado de forma mais discreta nas modelagens e cortes das vestimentas.
Então, como é possível Michele estar transformando a Valentino em Gucci se a estética que está sendo associada à marca de Florença nunca existiu antes do trabalho do designer? Por isso, é importante desassociarmos o que é a singularidade de Michele e o que é a essência das duas Maisons.
Os Atributos de Alessandro Michele
Alessandro Michele deixa muito clara sua valorização pela moda vintage. O estilista, premiado em 2015 pelo Conselho de Moda Britânico, brinca com um repertório único onde “olha para o futuro através das lentes do passado” (guarde essa informação). Por meio do maximalismo, cores vibrantes e estampas diferenciadas, ele também quebra normas de gênero e evoca uma estética de roupas second-hand de luxo.
Olhando diretamente, sem aprofundamento, a partir de uma observação crua, a composição de um look pensado pelo diretor criativo não remete em nada a Pierpaolo Piccioli. E como Michele já informou em veículos internacionais: “Sou eu ainda jogando este jogo, continuo sendo quem sou. Serão meus olhos que olharão para este novo espaço que estou habitando, serei eu fazendo essas roupas.” Mas, se desfizermos o styling, retirando à primeira vista os elementos excêntricos, veremos que por baixo deles ainda terá Valentino.
A imagem como um todo demonstra o poder de Alessandro em criar um rebranding, sem abrir mão de seu estilo original, mas encontrando inspiração nos arquivos da marca e abrindo um baú de possibilidades que se fundem ao seu jeito peculiar.
Se olharmos certos produtos isoladamente, vemos o trabalho do fundador da marca, Valentino Garavani, representado em saias, blusas, vestidos e acessórios que são facilmente vendáveis e usáveis.
Inspirações para a Criação do Resort 2025
A moda não precisa ser óbvia, o que é uma boa tática, já que Michele nos leva a querer conhecê-lo melhor. Sabendo que é costume dele procurar ideias em legados passados, aí está o emblema que muitos tentavam achar: nessa volta no tempo, encontra-se a Valentino.
O amado ex-designer da Gucci admirou-se pelas tendências de 1968 e pelo histórico da Valentino dos anos 70, que ecoam o preppy sofisticado.
Sem falar que a diversidade está sendo um tema abordado desde esse primeiro momento, afastando a Valentino dos modelos padrão a que estamos acostumados.
Alessandro ficou conhecido por sempre abordar discursos sem nenhuma agenda política. Agora, ele afirma que, na Valentino, esse será um novo desafio que acontecerá naturalmente e onde tudo pode acontecer.