Começou nesta segunda-feira (22/01) o grande dia para os amantes da moda, onde grandes marcas desfilam suas coleções em Paris e levam os convidados de seus desfiles à loucura com os designs apresentados.
Estamos falando da Semana de Moda de Alta Costura, na qual um seleto grupo de designers mostra as tendências para o mercado de luxo com peças exibidas feitas de materiais de altíssima qualidade, seguindo regras e concessões. São roupas exclusivas feitas sob medida para eventos que exigem trajes de gala ou black tie, onde o objetivo é mostrar criatividade e habilidade.
Para pertencer a essa alta classe de selecionados, é necessário produzir as vestimentas à mão, sem nenhum auxílio de máquinas, além de ter uma equipe mínima de 15 artesãos em tempo integral e um corpo técnico de 20 pessoas. Sabendo disso, confira agora as grifes que se destacaram no primeiro dia:
SCHIAPARELLI- Daniel Roseberry inaugurou a temporada de Verão da Alta Costura em Paris com uma coleção que incorpora traços icônicos da casa Schiaparelli. Com proporções ampliadas que emergem como uma tendência para este ano, rendas, bordados, silhuetas ousadas, vestidos de couro, franjas, formas balonê e criações que refletem referências e visões, o diretor criativo fundiu o olhar visionário de Madame Schiaparelli com sua própria história na marca.
O designer apresentou um mundo imaginário no qual o surreal encontra o real, e cada peça é um sonho possível. A coleção permeia a história do tio de Elsa Schiaparelli, Giovanni, diretor do observatório de Brera ao qual foi atribuída a invenção do termo “marziano”. A partir disso, Roseberry estabeleceu um tributo à inovação, terra e céu.
O desfile contou com trilhas sonoras que se alinharam ao tema, incluindo “The Planet”, opus 32 da London Philharmonic, a trilha sonora de Top Gun e o tema da Metro Goldwyn Mayer. A musa do show foi Maggie Maurer, que surgiu com um bebê sci-fi, deixando claro para onde Daniel quer nos levar: para o futuro. Um futuro que nos faz refletir para não nos prendermos ao século passado. Há quem diga que essa é uma de suas melhores coleções até o momento.
GEORGES HOBEIKA- A coleção Couture de Primavera 2024 da Maison Georges Hobeika é totalmente inspirada no mundo árabe, sendo uma reverência ao bom gosto, ao glamour e à beleza das mulheres do Oriente Médio. As peças realçam os aspectos criativos da cultura e o sentimento de cuidado e compaixão demonstrados em toda a região.
A Primavera da grife retrata elementos nostálgicos da infância, fundidos com o espírito das décadas de 50, 60 e 70, ecoando a energia das festas dessas épocas, ao passo que uma sensação de modernismo simplificado confere uma abordagem contemporânea aos designs.
Bordados, muitas cores, brilhos, pedrarias, tailleurs, peças com lindas caudas e vestidos com recortes fazem parte da estética desses países árabes e exigem uma alta demanda, além de contribuírem para deixar o visual do show ainda mais agradável aos olhares dos presentes. Tecidos de natureza oriental, inspirados em tapetes de seda, flores, arquitetura antiga e joias árabes, refletem a visão da marca em detalhes caprichosos e lúdicos.
CHRISTIAN DIOR- Sempre uma das marcas mais esperadas na semana da Alta Costura, a Dior entregou substância para a temporada Primavera/Verão de 2024. A coleção da icônica diretora criativa Maria Grazia Chiuri traduziu sua parceria com a artista Isabella Ducrot, dona da obra denominada ‘Big Aura’, que foi retratada na passarela em uma instalação cênica em bordados pela Chanakya International School Of Craft (uma casa têxtil comprometida com a conservação dos legados artesanais), adornando as paredes do Musée Rodin, o local de encontro de todos os desfiles de alta-costura da Dior.
Os tecidos luxuosos estavam repletos de significados. Isabella explica que o nome de seu trabalho surgiu a partir de vestidos enormes com exaltação do espaço ao redor do corpo, por isso ‘Big Aura’, porque ela teve a impressão de que a enorme diferença nas medidas saltava repentinamente, como se, de repente, estivéssemos vendo como os deuses do Olimpo se vestiam, por exemplo. Algo simbólico que toma forma porque entramos em um espaço ligeiramente misterioso que não tem razão para existir, não é racional.
O tamanho incomensurável das roupas é proposto como uma metáfora, uma desproporção destinada a fazer-nos refletir sobre esta relação. Os tecidos são materiais recolhidos pela artista durante toda a sua vida, fragmentos de suas viagens que são bordados em grandes painéis para a ocasião.
A cor que abriu o desfile foi um bege escuro em uma sequência de looks monocromáticos em peças de alfaiataria. Logo após, entraram na passarela produções noturnas confeccionadas em um importante tecido chamado moiré, originado na Ásia Central e que tem efeito brilhoso por seu meticuloso processo de polimento em pedra. Chiuri resgatou o tecido dos arquivos de 1952 de Christian Dior, quando ele produziu o icônico vestido ‘La Cigale’, feito também em moiré. Com isso, a grife estabeleceu uma associação forte entre a relação humana com a Alta Costura e as mãos que fazem tudo acontecer, pois esta arte é fruto de um árduo trabalho.
RAHUL MISHRA- Rahul Mishra apresentou sua coleção Super Heroes Couture Spring 2024 na semana de moda, inspirada no mundo dos insetos, os “heróis anônimos” da natureza. Em sua página do Instagram, o estilista afirma que procurou “ir além de sua zona de conforto, olhando para aqueles que estiveram aqui antes dele”.
As peças desfiladas apresentaram bordados intricados, motivos florais e formas de borboleta, libélula, cobras e outros animais. O destaque do show foi a atriz Ananya Panday, que caminhou pela passarela vestindo um belo vestido no formato de peneira com borboletas.
O designer incorporou seus valores fundamentais centrados em uma conexão profunda com a natureza. Ao interagir com a flora e a fauna, faz um lembrete visual da interconexão entre a humanidade e o mundo natural e a necessidade urgente de proteger sua existência. Mishra também misturou, em um de seus designs marcantes, a beleza da galáxia com as abelhas essenciais ao ecossistema, cruciais para a gênese da vida na Terra.
GIAMBATTISTA VALLI- A alta costura de Giambattista Valli seguiu aspectos românticos nesta segunda-feira em Paris. As rosas foram um tema recorrente das últimas semanas de moda, mas Valli não se abalou e trouxe um jardim particular para a passarela. O designer afirmou em uma rápida entrevista nos bastidores para a WWD que “a natureza é infinita. A primavera está sempre chegando e sempre há algo florescendo”.
Seu desfile trouxe de volta as tão famosas bainhas mullet, que apareceram consideravelmente revelando uma série de vestidos visualmente hipnotizantes, com muitas tendências, inclusive a que se destaca das demais: os ombros à mostra. Rosas brancas ajudaram a dar volume para as peças, bem como camadas em estilos como balonê, babados e tule. A Maison não abriu mão dos laços característicos do estilo romântico e hiperfeminino que vem se destacando cada vez mais neste ano.
A casa, de certa forma, também brincou com as proporções adicionando volumes nas mangas com aspecto bufante, que surgiram opulentas, contrastando com o veludo que conferiu às vestimentas um ar de realeza. A paleta de cores preta e branca vai se transformando gradualmente, dando vida a florais na cor roxa, que, por sua vez, transicionam para um vestido com casaco de plumas, alternando para vestidos com caudas belíssimas e capas que denotam a elegância clássica da marca. Rosa, vermelho prateado e laranja foram parte dos tons energéticos impossíveis de passarem despercebidos.
Valli optou por apostar na grandiosidade da Alta Costura, dando prioridade para protótipos em musselina, ou toiles, o material bruto para experimentação e um estudo em novas formas que resultou em uma multiplicidade de novas silhuetas que fogem da moda atual que preza o luxo discreto.
Fotos: Vogue