Renata Boldrini, Roger Lerina e Marla Martins
Imagens: Cleiton Thiele/Edison Vara – Agência Pressphoto
Pela primeira vez, o Festival de Gramado foi realizada através de exibições multiplataformas, entre os dias 18 e 26 de setembro. A iniciativa foi gerada pela pandemia do coronavírus, mas não impediu que a 48ª edição do evento, que é um dos mais importantes para o cenário do cinema brasileiro e ibero-americano, acontecesse neste ano. Espectadores puderam acompanhar 51 filmes concorrentes, entre curtas e longas-metragens, pelo Canal Brasil e seu serviço de streaming.
Uma honra para o Canal Brasil abrigar esta edição do Festival de Gramado. Uma adaptação necessária em um ano especial que tem como linda consequência a democratização do acesso. Temos a clara sensação de estar escrevendo a história e comemoramos juntos a edição mais popular do festival. Como se convidássemos todos que acompanham a cada ano o tapete vermelho e fãs do cinema brasileiro espalhados por todo país para dentro do Palácio dos Festivais.”
– André Saddy, diretor geral do Canal Brasil
De acordo com o presidente da Gramadotur, Rafael Carniel, que faz parte da autarquia municipal responsável pela realização do Festival, a indústria audiovisual gera 25 bilhões de reais em faturamento, ou seja, quase 2% do PIB brasileiro. Antes da pandemia, crescia em média 7%, mais do que o turismo. Portanto, são aproximadamente 13 mil empresas que geram 300 mil postos de trabalhos. “No contexto de pandemia ela tem formado opiniões, tem tirado o mundo da ignorância, interrompido a cegueira sobre a realidade do outro. Qualificado, emocionado, aliviado a dor das pessoas”, diz.
DESTAQUES DA PREMIAÇÃO
Apresentada por Marla Martins e Renata Boldrini, a cerimônia de premiação, diretamente do Palácio dos Festivais, em Gramado, revelou os vencedores e a entrega dos famosos Kikitos. Separadas pela distância física, equipes participaram por telão. King Kong Asunción, longa-metragem pernambucano, foi o grande destaque da noite, com três estatuetas, entre elas a de Melhor Filme.
Em homenagem póstuma, Andrade Júnior, protagonista do filme, foi reconhecido como Melhor Ator pelo papel de matador de aluguel que se reconecta com laços familiares. O artista faleceu em maio de 2019 e não chegou a ver a obra concluída. Com passagem por três países e profissionais de cinco nacionalidades diferentes, a produção mostrou panoramas da América Latina.
Assim como o concorrente Todos os Mortos, longa de Caetano Gotardo e Marco Dutra, que aborda a história do Brasil pela perspectiva das pessoas escravizadas, que venceu nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante, para Alaíde Costa, e Melhor Ator Coadjuvante, para Thomás Aquino.
Na categoria de Melhor Direção, o conhecido cineasta Ruy Guerra levou o Kikito por Aos Pedaços. Pablo Baião levou o prêmio de Melhor Fotografia pelo mesmo filme e o Bernardo Uzeda por Melhor Desenho de Som. Mas, o prêmio de Melhor atriz ficou para a portuguesa Isabel Zuaa, pela atuação em Um Animal Amarelo, uma tragicômica fábula tropical. Ela recebeu a notícia de casa, diretamente de Portugal e, muito emocionada, agradeceu e manifestou admiração pelas companheiras de profissão que estavam na disputa. Por fim, sua família invadiu a tela para um abraço coletivo.
ESTRANGEIROS
O melhor longa-metragem estrangeiro é de Davi David, La Frontera. Também assinando o roteiro, o jovem cineasta retrata o drama de famílias afetadas pelas crises na fronteira entre Colômbia e Venezuela. Além disso, garantiu estatuetas de Melhor Atriz para as duas protagonistas Daylin Veja Moreno e Sheila Monterola.
Já o Kikito de Melhor Ator foi para Anibal Ortiz pelo trabalho em Matar a um Muerto, filme ambientado durante o período da ditatura militar no Paraguai. Além disso, o prêmio de Melhor Direção ficou com El gran viaje al país pequeno, de Mariana Viñoles. É um documentário que acompanhou a trajetória de duas das cinco famílias de refugiados sírios recebidas pelo Uruguai, em 2014.
GAÚCHO
Portuñol, da diretora Thais Fernandes, é o melhor filme do Rio Grande do Sul, contanto a intersecção de culturas no estado. “Muito feliz por este reconhecimento, e quero parabenizar os colegas, agradecer a todas as pessoas que fizeram parte deste filme. Queríamos mostrar uma fronteira que muita gente não conhece, a mistura de cultura, mostrar a importância de conviver com as diferenças. É uma narrativa que fala da importância de conviver com as diferenças”, diz Fernandes.
EDIÇÃO HISTÓRICA
O Festival de Cinema de Gramado aconteceu em um ano difícil. Entretanto, com inovação e medidas de segurança. A autarquia municipal que coordenou a edição, Gramadotur, afirma ter cumprido a missão de legado para a cidade, o audiovisual brasileiro e latino, de acordo com Iara Sartori, diretora de eventos da empresa. “Acreditamos e reiteramos na vocação da cidade que se projetou pela cultura”, diz. Por fim, confira a lista completa dos vencedores da premiação no site oficial.