Em 2024, houve um aumento significativo na procura por itens de moda vintage. O público, movido pela necessidade de se desprender do fast fashion e das tendências que entram e saem rápido demais no mercado, procura meios de se destacar dos demais, atraídos pelo desejo de individualidade, além do crescente fator de conscientização ao consumo consciente.
O acessório que “ressurgiu” e está atraindo olhares é o lenço, ecoando o estilo refinado e sofisticado dos anos 50 e 60 e sendo reproduzido pelas celebridades e grifes de luxo. A busca pela moda retrô tem crescido nas plataformas e fomentado as vendas em comércios de artigos second-hand, onde os entusiastas podem achar produtos raros e assim ter looks singulares.
Lenço: Um Acessório Duradouro que Atravessou Décadas
O lenço esconde séculos de definições culturais, políticas e religiosas. Inserido em muitos cenários, inclusive de resistência, enfeitou o cabelo de homens e mulheres, evoluindo e abrangendo tecidos luxuosos, uma variedade de estampas e, na modernidade, originando reinterpretações.
O lenço tem origem nas sociedades mesopotâmicas, onde era utilizado para proteger a cabeça do sol e da chuva em tecido de linho. Durante os anos 1201 a 1300, foi escrita a primeira lei que impôs o uso do lenço a filhas e viúvas como sinal de piedade, sendo ilegal a sua utilização por mulheres de classe baixa. A simbologia do lenço remete à imagem de ser uma pessoa respeitável.
Em 1910, as Maisons francesas começaram a voltar sua atenção para o lenço e passaram a criar designs coloridos. O estilista Paul Poiret ficou muito famoso por seus modelos diferenciados.
Nas décadas de 20 e 30, o lenço foi aprimorado e ganhou versões em seda e cetim, com padrões intrincados e, principalmente, franjas, evidenciando o glamour da época. A forma de usá-lo consistia em amarrá-lo ao redor da cabeça, ajustando-o sob o queixo, sendo muito visto nas flappers. Com a popularidade do cinema de Hollywood, o lenço alcançou ainda mais prestígio, tornando-se indispensável para estrelas como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Anna Mae Wong, entre outras.
Em 1937, Nasce a Linha de Lenços de Seda da Hermès
A Hermès lança sua primeira linha de carrés, lenços de seda em formato quadrado e estampados, que foram influência entre as francesas e ídolos de Hollywood. O lenço da Hermès se tornou o favorito da atriz Audrey Hepburn. A mesma disse uma vez: “Quando uso um lenço de seda, me sinto definitivamente como uma mulher, uma bela mulher.”
Não podemos esquecer de mencionar que o lenço da Hermès foi muito disputado na alta sociedade, passando pelas cabeças da Rainha Elizabeth II, Princesa Diana, da Primeira-Dama americana Jacqueline Kennedy e da Princesa Grace Kelly de Mônaco.
O Lenço Já Foi Essencial no Ambiente de Trabalho
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, o lenço de cabeça deixou de ser um objeto de embelezamento e se tornou um acessório utilitário para mulheres no Reino Unido e nos Estados Unidos, ajudando a prevenir que as trabalhadoras enganchassem ou sujassem os cabelos nas máquinas das fábricas.
O Lenço na Moda Contemporânea
A partir das décadas seguintes, os lenços passaram a refletir o espírito ousado de cada período, marcados por revoluções sociais e looks de autoexpressão e descontração. Inclusive, em 2019, o acessório foi associado aos babushkas, lenços característicos das avós russas.
O estilista Marc Jacobs é uma figura importante na promoção do uso de lenços em suas coleções. Em 2020 e 2022, ele propôs uma série de designs em diferentes materiais.
Em 2024, o lenço invade o street style, e a combinação da vez é lenço e boné, priorizando misturar cores, estampas ou texturas. Isso demonstra um olhar mais apurado e criativo para a moda. A dica é apostar na estampa do momento, a de leopardo, como fez Hailey Bieber.
Ele é um complemento e, por ter atravessado muitas épocas, acompanhou as constantes mudanças da moda. Isso é uma vantagem, pois permite que você se inspire em diferentes estilos e o traga para compor os looks com sua própria releitura.
Fotos: Helmut Newton e Reprodução