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A segunda revolução da moda mudou para sempre o comportamento e o guarda-roupa da sociedade. Em conjunto com a Art Déco, surgida na mesma época, e o jazz, as mulheres foram as ruas mais provocativas e com uma liberdade sexual não vista anteriormente. Já os homens não eram mais as figuras paternas e, sim, joviais e leves.
Além disso, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) transformou o panorama cultural e social no mundo inteiro. Portanto, a moda foi influenciada pelos aspectos econômicos e sociais de cada época, que trazem alterações para os gostos e as principais tendências. Regras e restrições tradicionais da Europa Ocidental tornaram-se obsoletas, gerando, então, o glamour dos famosos “loucos anos 1920”.
MELINDROSA
Durante 1920, o visual feminino mudou radicalmente, indo de uma silhueta apertada no espartilho ao um look mais prático, moderno e singular. Neste período pós-guerra, os vestidos subiram em comprimento para tornar a vida mais fácil e trabalhos antes direcionados para os homens, que estavam no campo de batalha em maioria, foram destinados a mulheres.
Tendência era ter uma aparência extremamente jovial. Entretanto, a rebeldia dos looks pode ser entendida, de acordo com parte dos historiadores, como um momento de liberdade feminina. É nessa época que as mulheres começam a votar em massa pelo globo e passam a frequentar boates, fumar e beber socialmente.
A moda deu espaço para a melindrosa ou flapgirls, que se comportavam de forma jovial e ousada, em busca de emoções diversas nos anos 1920. Os vestidos, que continuam sendo considerados diferentes, eram soltos e iam até os joelhos ou um pouco depois. Tecidos leves em tons vibrantes tomaram conta do guarda-roupa feminino. Mas, enquanto a cintura não era marcada ou apenas ressaltavam o quadril, os tamanhos das peças eram provocativos. Além disso, as golas Peter Pan, conjuntos de marinheira, sapatos mary jane com salto cubano e chapéus curtos, quase em um formato de sino, eram os favoritos as consumidoras.
Também, os cabelos curtos, no queixo, eram outra trend super moderna: até a década anterior, era normal deixar as madeixas extremamente longas e presas nos mais diversos penteados. Os cortes la garçonneou bob eram os mais pedidos. Inclusive, a estilista Coco Chanel foi uma das que adotou o visual e o difundiu. Ainda assim, ela começou com o movimento de usar calças e smokings, classificados anteriormente como masculinos. No quesito acessório, plumas, miçangas e pérolas dominaram os looks para dar um ar elegante com muito movimento que acompanhava as danças de Charleston nas boates.
MAQUIAGEM
Em uma reviravolta impressionante, a maquiagem, antes natural, foi substituída por olhos expressivos marcados com preto, através de um produto chamado Kohl, o antecessor do queridinho delineador. Popularizada pelo cinema, as mulheres vão em busca de novos produtos em 1920. Sobrancelhas ultra finas e lábios, em formado de coração, nos tons de vermelho são muito utilizados.
MODA MASCULINA
Nos anos 20, os homens perderam a imponência fornecida pela Era Eduardiana e suas silhuetas ficaram mais leves e joviais também. Um homem jovem de boa aparência era a estética favorita para eles. Os pelos nos rostos quase desapareceram e, se estivessem presentes, eram sempre cortados de forma impecável. A literatura nos dá um vislumbre disso: jovens heróis, suscetíveis, impulsivos e com um lado mais emocional são apresentados para os leitores.
CINEMA
Há uma grande transição entre os filmes mudos e os longas-metragens falados, o que provoca mudanças na indústria cinematográfica e no comportamento das pessoas em 1920. Então, a forma de narrativa clássica entra em cena, com tramas em ordem cronológica e em causa-e-efeito. Enquanto aparecem as primeiras estrelas do gênero, como Charles Chaplin, Greta Garbo e Bebe Daniels. Em Hollywood, os principais diretores eram D. W. Griffith, considerado pai do cinema americano, e Cecil B. DeMille.
Na Alemanha, no primeiro ano da década, Robert Wiene lança O Gabinete do Dr. Caligari, um clássico aclamado como um dos melhores do período. Por fim, uma curiosidade interessante é o lançamento do desenho Steamboat Wille, com o personagem Mickey Mouse, em 1928, Walt Disney lança o que seria o primeiro grande sucesso da Disney Studios.
ART DÉCO
A princípio, o nome vem da definição “Artes Decorativas”, criado em 1875 para designar artistas que trabalhavam com design de móveis, moda, joias e artes aplicadas. Formas geométricas, ornamentos e design abstrato são os pontos altos do movimento artístico. Influenciou diversas áreas da sociedade, como a moda, arquitetura, o design de interiores e cinema, por exemplo. Com isso, o seu marco de início foi a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de Paris, em 1925, com participação de mais de 15 mil pessoas de 15 países diferentes.
JAZZ
O jazz é um dos principais gêneros ouvidos nos anos 1920, tem surgimento nos Estados Unidos, nascido de uma junção de influências africanas e europeias. Em conjunto com o blues, esse tipo de música aparece no cotidiano das colheitas norte-americanas, onde os negros ainda sofriam pela falta de oportunidades e pelo árduo trabalho. Foi ganhando palco e popularidade, tocado para animar a população.
Considerado um som moderno para a época, se consolidou e ganhou fama na cidade de Nova Orleães. Inclusive, influenciou grandes nomes da literatura, como F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. A matéria Como a era do jazz mudou para sempre a forma como nos vestimos, da BBC, reforça a ideia ao afirmar que mulheres jovens trabalharam durante o dia e, à noite, saíam sozinhas para clubes de jazz.
O FINAL DA DÉCADA
Entretanto, em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, o mundo entra em crise econômica e se prepara para a década da Segunda Guerra Mundial. Por isso, há o que podemos considerar de “retrocesso” cultural e social, que também impactou a moda. Saias longas, cabelos compridos e cinturas marcadas voltam com toda força. Ao mesmo tempo, a ascensão de políticas radicais leva ao poder pessoas como Adolf Hitler, na Alemanha. Em síntese, o mundo fashion pode ser considerado um verdadeiro reflexo das mudanças vividas por nós ao longo do tempo.
“Após dois anos, a era do jazz parece tão distante quanto os dias antes da guerra. Foi um tempo emprestado de qualquer forma – toda a elite de uma nação vivendo com a despreocupação de duques e a casualidade de uma corista. Mas ser moralista é fácil agora e foi agradável estar na casa dos 20 anos em um tempo tão seguro e despreocupado”.
— F. Scott Fitzgerald em Ecos da Era do Jazz, para uma edição de 1931 da Revista Scribner